A Nossa Língua é Internacional
Mostrar mensagens com a etiqueta Língua. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Língua. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A lingua tamén entra en campaña

En youtube prosegue a loita electoral. Un vídeo amosa a práctica lingüística que algúns agochan tras do seu discurso.

O vídeo repasa as contradicións existentes entre o discurso lingüístico de PP e Galicia Bilingüe e as súas prácticas, e revela algunhas inexactitudes e falsidades difundidas por estas e outras organizacións sobre a situación legal e social da lingua en Galiza. Vemos, por exemplo, a Ana Pastor amosando un moi baixo nivel de galego, e á propia Pastor e a Núñez Feijoo cun coñecemento de inglés moi baixo igualmente. Vemos así mesmo a Corina Porro criticando con dureza ao BNG, apenas dous anos despois de ofrecerlle un pacto para gobernar a cidade de Vigo.

Escoitamos tamén os dirixentes de Galicia Bilingüe declarando nos medios que "grazas a eles" o PP votou en contra do decreto de galeguización do ensino (cando en realidade foi consensuado e votado polos tres partidos con representación parlamentaria).

Para ver a nova no seu lugar de origem, preme aqui

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

'As academias defenden ás elites controlando a lingua'

Redacción. Lograr que a Real Academia Española (RAE) elimine as acepcións de 'tonto' e 'tartamudo' do termo 'gallego'. Este é o obxectivo dun grupo de mozos de Compostela que se acaban de organizar co nome de Asociación Garipano.

Garipano conta co apoio da escritora Teresa Moure. Neste vídeo de ANT TV, Moure denuncia que “o que acontence coas academias é que son instuticións conservadoras que manteñen os privilexios das elites e fanno precisamente a través do control da lingua”.

A profesora na Facultade de Filoloxía da Universidade de Santiago asegura que, na súa tarefa de “control”, a RAE e as outras academias “non queren cambios, ao igual que pasa cos termos que trivializan as mulleres ou a homosexualidade”.

Tatexos, pero só dende 2001


A colaboradora de ANT explica que a acepción de tatexo nace das dificultades que tiñan os galegofalantes para falaren correctamente o idioma castelán. Mar López, da Asociación Garipano, indica que foi en 2001 cando se introduciu esta acepción de tartamudo, tras a morte do académico galego Camilo José Cela.

López tamén indica que no caso doutras linguas, como o catalán ou o castelán, o dicicionario da RAE si especifica que se trata dunha lingua romance.

Para lograr o seu obxectivo, a Asociación Garipano lanzou unha páxina web na que recolle sinaturas tanto a nivel individual como colectivo.


Para ler a nova na sua fonte original, preme aqui

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

De quem é este poema?

XEITEIROS DO SUR

Os últimos xeiteiros
en partir
—os do sur—
tremosos
e mesmo taciturnos
perdíanse no ocaso amargo das miradas

Atrás,
como nos días da fatal ausencia,
quedaban
a mornura do fogar
e a calma
dun regazo octoxenario

Sol a sol
nun longo ronsel de incerteza,
como áncoras intactas
e voraces

os últimos xeiteiros
singraban novas lúas e crepúsculos

Eles sabían do mar
porque xurdiran do sal. O mar.
O mar só reflectía
as chagas dos seus dedos malferidos

Pero eles eran
os últimos xeiteiros
en partir

aqueles que, a media lúa,
algo tremosos

e armados duns remos
de pao de carballo
en cadanseu tolete

vogaban paseniño
cara as escuras
e argazosas augas
que a certeza
mostraba, taciturna,

eran o pan
—ao sur—
das súas fames

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ensinar bem a nossa língua

Por José Paz Rodrigues

Num recente estudo de pesquisa sobre a problemática do ensino do nosso idioma, dirigido por Benito Silva do ICE da universidade compostelana, a conclusom mais importante que se tirou foi a baixa preparaçom didáctica dos ensinantes de língua galega de todos os níveis, o que, junto com outros problemas que padece desde há tempo a língua galega (descida alarmante de utentes, normativa artificial e artificiosa, infravaloraçom e complexos de galegos e galegas, excessiva politilizaçom do tema...), está a repercutir negativamente no desenvolvimento de uma língua internacional como a nossa, em território espanhol.

Por isto vem muito bem a iniciativa da AGAL (Associaçom Galega da Língua), organizando as “Jornadas de Didáctica da Língua Galega”, das que este ano tivo lugar a segunda ediçom no Liceu de Ourense. Por meio de colóquios, tertúlias, forum-cinema e mesas redondas, durante uma semana, tiraram-se importantes conclusões para a melhora do ensino da língua na nossa comunidade, oficial em oito países lusófonos dos cinco continentes.

Mas, a primeira conclusom básica é que necessitamos docentes com valores de bondade e alegria, que amem esta língua, que respeitem os seus alunos, que convençam sem impor e que tenham habilidades humanas, sociais e didácticas para desenvolver as suas aulas de maneira acertada. Para lograr que crianças, adolescentes e jovens apreciem a sua língua e a utilizem sem complexos em todos os contextos. Sem despreciar outras línguas, porque todas som importantes e apreciáveis.

Entre as propostas didácticas que nós fazemos para ensinar bem a nossa língua, estám as seguintes:

1. O melhor livro é a vida e o contorno, por isto devemos utilizar a natureza e o meio social e natural, as pessoas, os animais, as plantas, as árvores, as flores, os rios, o mar, a história local, a etnografia, os montes, os monumentos. Freinet na sua escola tinha isto muito claro. E também o nosso Otero Pedraio.

2. Temos que basear-nos sempre na afectividade e nos sentimentos:
Partir sempre dos interesses e preferências dos estudantes, dos seus gostos. Ter em conta a auto-estima, as atitudes e a valorizaçom da própria língua. Só se pode ensinar o que se ama, como muito bem sinalava Tagore.

3. Fomentar sempre a criatividade e as capacidades expressivas dos estudantes Ter em conta em todo o momento a participaçom dos estudantes e o seu trabalho individual e colectivo, levando a cabo, por exemplo, trabalhos de pesquisa em equipa sobre temas da nossa cultura e de todo o que a Nossa Terra oferece nos diferentes âmbitos.

4. Utilizar sempre técnicas lúdicas, vivas e dinâmicas: Dar importância às actividades artísticas variadas, aos jogos, à música e cantares, aos trabalhos manuais, ao teatro e aos monicreques...

5. Preferência Curricular para a Cultura Popular: Escapar do gramaticalismo, tam aborrecível e tam anti-motivador. Utilizar a literatura popular tam rica que temos. As adivinhas, ditos, refrães, poemas, lengalengas, recolheitas, os jogos populares e tradicionais (e ademais praticá-los), o ciclo anual das festas populares, a música popular, aprendendo a cantar as nossas formosas cantigas tradicionais, as artes e o artesanato, etc.

6. As actividades a desenvolver preferentemente, devem ser: o jornal escolar, as revistas e revistas orais, o teatro em todas as variedades (lido, monicreques, dramatizações...), os encontros lúdicos, o forum-cinema, as audições musicais de cantigas e poesias, os concursos e certames, as trocas escolares, as exposições e mostras, a elaboraçom de livros de bordo no computador, a banda desenhada, os obradoiros variados, a animaçom à leitura lúdica e criativa, os conta-contos, a filatelia, a correspondência inter-escolar, as monografias com rodízios de imagens, os recursos humanos da localidade (escritores, artistas, científicos, historiadores, etc).

7. Os Recursos Didácticos preferentes a utilizar seriam: De tipo impresso, os jornais galegos e os seus suplementos, os livros variados, as revistas e os folhetos e unidades didácticas. De tipo audiovisual, os CDs, DVDs, a rádio e os seus programas, os filmes galego-lusófonos. De tipo manipulativo, os jogos e os brinquedos, e a Internete, sabendo escolher o que mereça a pena. Os recursos humanos da localidade, muito importantes como sinalamos antes, e que podem acercar-se aos centros de ensino para dar charlas aos alunos e transmitir-lhes os seus saberes. Os recursos elaborados, como enredos e jogos tradicionais, filmagem de documentários e tiragem de fotografias. Por último, aqueles fornecidos, levados da casa dos alunos e docentes, do meio e do contorno, bibliotecas, museus, centros culturais...

Claro que para isto necessitaríamos mudar muitas cousas nas nossas escolas e centros de secundária, fazer um ensino muito mais flexível e criativo, dar importância ao que a tem e valorizar os docentes. A inovaçom que hoje nom temos na Galiza nem por sombras é uma tarefa muito urgente na Nossa Terra. Infelizmente pode ainda demorar. Porque há que mudar já os administradores da educaçom e a mente de muitos directivos e docentes. A tarefa é de gigantes e de pessoas com paciência e dignidade.

-------------------------------------------------------------------------------------------------

(*) José Paz é professor numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense.

Para ler a nova no seu lugar de origem, preme aqui

domingo, 21 de setembro de 2008

Antónia Luna, professora de galego em Buenos Aires

"Eu nom o verei, mas o reintegracionismo vai prender"

Fundadora de Amigos do Idioma Galego e mestra de galego integrado na Argentina, Antónia Luna (85 anos) visita estes dias Noia, a vila de seus pais.

Antónia é galega mália nom nascer aqui. Fijo-o em 1923 em Buenos Aires, onde reside hoje e onde exerce de embaixadora da nossa cultura. Filha do presidente fundador da Sociedade dos Filhos do Partido Judicial de Noia em Buenos Aires, o seu achegamento a todo o que tivesse o galego como definiçom foi um jeito de evoluçom natural. De nena já recitava poemas de Rosalia ou Cabanillas, e quase que aprendeu a ler coa única página galega que os domingos incorporava o jornal "Correo de Galicia". Estes forom os seus primeiros contactos coa nossa língua, um idioma que, por certo, nom empregavam os seus pais acotio, empuxados por um contexto laboral eminentemente formado por argentinos e italianos: "o meu pai era sapateiro e nom empregava o galego porque nom tivo a oportunidade, emigrou com oito anos e já nom tinha ninguém com quem falá-lo", relata Antónia.

Àquelas forom as origens, mas os vencelhos de Antónia Luna coa nossa língua estreitarom-se com o passo dos anos: hai agora 31 inscreveu-se no seu primeiro curso no Centro Galego de Buenos Aires, lugar onde conheceria ao seu mestre, entom e agora, Higino Martins Estêvez. El introduciu-na no interesse polo galego integrado, já que o outro, para Antónia, nom é máis que "castrapo, um galego arruinado". Desde entom até hoje, o trabalho pola língua que exerce esta mulher na Argentina nom encontrou freio. De aluna passou a mestra e hoje colabora na Federación de Sociedades Galegas no ensino do galego. Tenhem uns 50 alunos, interessados todos eles no conhecemento do galego "nom deturpado polos hispanofalantes", se bem os mais topam dificuldades e lamentam que esse "nom seja o galego que falavam os seus avós". Neste caminho, Antónia mesmo viveu a expulsom do Centro Galego de Buenos Aires a onde "nos proibírom a entrada porque eramos reintegracionistas, nom queriam essa história porque já iam mestres desde Galiza pagados pola Administraçom para ensinar o galego da Junta (...) foi umha decisom tomada por questões políticas".

O galego e o lunfardo

Pero as achegas de Antónia ao estudo da nossa cultura nom terminárom aí. Fundadora de Amigos do Idioma Galego, no seu interesse em profundar na nossa lingua participou em diferentes congressos. Num deles recompilou o trabalho levado a cabo por professores de galego em Buenos Aires. Noutro, aproximou-se a unha questom bem desconhecida: fijo umha recolheita dumhas 80 palavras procedentes do galego–português que ficárom na língua lunfarda (argot de origem popular que hoje ainda se fala no Rio da Prata). Termos como gaiola (por cárcere) ou tamanco (por sapato ou zanco) entre outras de origem galega empregam-se ainda hoje em contextos menos cultos desta regiom argentina.

Expectativas para o futuro

Antónia vem agora de passar uns dias em Noia onde a sua família. De aqui também levou terra galega, da horta da sua nai (da Barquinha) e da do seu pai (de Albariça), umha terra que hoje preside a sua casa bonaerense e que lhe recorda aos parentes, a Noia e a Galiza, um país do que lhe custa muito ir-se. Aqui regressa cada três anos e hoje asegura que é mais optimista com o futuro da nossa lingua: "a partir do ano 1976 eu percebo muita mais gente falando galego, hoje fala-o toda a gente nova". Em quanto ao futuro do reintegracionismo, Antónia também asegura estar esperançada: "eu sinto que hai muito interesse, na Argentina falamo-lo, isso si, como sabemos (...) penso que acá se está luitando mui a sério, lá os que luitamos somos nós".

Para ler a nova em versom original premede aqui. Ademais, contem um vídeo coa protagonista desta história. Também a podedes ver no PGL.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vídeo da conferência central do encontro Somando Esforços pola Língua

PGL - No dia 16 de Fevereiro de 2008, o Verbum - Museu das Palavras (Vigo - Galiza), foi palco das jornadas Somando Esforços pola Língua, organizadas pola AGAL. Na sequência dessas jornadas, o professor da EOI de Compostela, Eduardo Sanches Maragoto, deu uma interessante conferência subordinada ao título "Modelo linguístico normalizador e alternativas de sucesso", cujo vídeo damos a conhecer agora.

A palestra do professor Maragoto estivo virada para o modelo de língua, o modelo de correcçom, a própria correcçom lingüística no uso do galego, a dialectizaçom do galego com respeito ao castelhano e, novamente, a utilidade do reintegracionismo nestes aspectos. Muito esclarecedores fôrom os exemplos audiovisiuais analisados, como o modelo de galego utilizado no bem sucedido documentário Línguas Cruzadas.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Galicia versus Galiza

Num artigo anterior a este falava eu de como tudo que é galego tem necessariamente que ser espanhol; agora venho de dar um passo mais à frente na minha hipótese, e logo de ter feito umas observações que vou partilhar aqui, afirmo que a relação espanhol-galego é muito mais complexa do que eu tinha antecipado e que hoje posso afirmar que... “tudo o que é espanhol é, ou é susceptível de ser, galego” .

Já o afirmava a famosa frase da Galicia Vil “el castellano es tan gallego como el gallego”

Bom, as minhas observações começaram um dia que eu passava por diante duma televisão na que se estava a ver uma série chamada “Padre Casares”. Logo de observar que nem os padres nem os que faziam de gente na série tinham nenhum feitio que eu pudesse identificar como da nossa cultura... mais bem tudo me parecia uma cópia de qualquer outra cousa... fui informada pola minha filha de que a tal série tinha arrancado com os moços do lugar a querer botar um porco (referindo-se a um dos do cortelho, e não a um de duas pernas, como muitos puderam estar a pensar) do campanário em baixo, e com o cura a o evitar...

A mim lembrou-me o porquinho de São António, que ia de porta em porta com um chocalho e cada dia seu vizinho lhe botava de comer... até que estava cevado e então o senhor cura chapava-o... Bom, pois até esse dia, o dia da tal série da TVG, esse de São António era o único porco, dos do cortelho vá, que eu tinha relacionado com a Igreja...

O assunto do campanário também me lembrou ter ouvido que lá na profunda Espanha castelhana há um lugar onde diz que tiram uma cabrita dum campanário em baixo, não sei bem para celebrar que cousa. Eu então compreendi que a tal série da TVG estava a trabalhar no projecto que eu chamo “cultural global” que consiste em conseguir que tudo aquilo que é espanhol seja também galego; e nessa série se demostra que o trabalho se pode fazer não só para o futuro, que parece bem mais fácil, senão que também para o próprio passado... se algo foi espanhol, tem necessariamente que poder ter sido galego...

Se, passados os primeiros escrúpulos, somos capazes de aceitar que nalguma aldeia das nossas alguma vez se pôde ter botado a um bichinho de um campanário em baixo, estaremos mais cerca dessa transformação total... alguns passos já se levam dado nesta direcção... e eu não vou mencionar aqui o que todos bem sabemos e nos está a bater nas ventas mesmo.

E já agora tenho que falar de Pol Pot, que surpreendentemente também aparece numa série da tal TVG, e esse sim que também não é porco nosso, nem mesmo é de muita conhecia. O porco de aqui, o único porco, que até teria pontuado bem alto no “galegómetro” é um que nascera em Ferrol de Si Mesmo, e que por acaso, por ser galego demais, ou tirano demais, não é incluído na série essa das quintas-feiras onde botam o clube dos ditadores infames.

Pois sim, assim é como está tendo lugar a transformação de tudo... e quando algo é galego demais e por tanto com dificuldades para caber dentro da Espanha, pois se elimina e prontos. Por exemplo, os actores que façam de galegos não devem ser (de poder-se evitar) galego-falantes, porque têm demasiado sotaque (apague-me aí ese seseo, hombre de dios, que se le nota a las leguas que es usted de la Cuesta de la Muerte)... Ou como um amigo meu de Lugo que também tem sido mal mirado às vezes na TVG por ter um jeito de falar que parece mais galego do necessário...

Mas tudo isto não foi inventado pola TVG, eles adoptaram esse estilo mas eles não o inventaram; não, isto já vem dos anos dourados de Hollywood, daqueles clássicos onde os índios também não serviam para fazer de índios, e usavam actores brancos tingidos, ou por vezes botavam mão dos mexicanos que dissimulavam algo melhor a cor.

E isto que eu vinha observando desde há algum tempo foi-me confirmado definitivamente polos últimos acontecidos que envolvem a Real Academia Galega e o nome do nosso país; que por ser Galiza um chisco galego demais, e portanto ter dificuldades para poder ser visto como espanhol, pois se reverte o processo e já está; se faz o espanhol ser galego e assunto ressolto... isto é como o conto de Mahoma e montanha.

Depois de assumido isto “Galicia” é tão galega (até haveria que dizer “gallega” para manter a coerência, não é?) como “Galiza”, que diria o outro; e com isso a RAG põe a “puntilla”, que já agora devo dizer que aqui não vai em referência àquelas pontilhas de encaixe com as que nossas mães nos tapavam a cara quando crianças para correr o entroido o dia da mascarada... não, não é isso, isso era antes, foram tempos... aqui “puntilla” refere-se a uma cousa afiada tipo faca pequeneira com a que nesses lugares da Espanha profunda, por ai por onde atiram animais dos campanários em baixo, espetam na cabeça a algum animal nalgum de seus rituais, e é bom nós irmos-nos acostumando a esse instrumentinho, pois algum dia, como tudo, por força, terá de ser galego.

http://www.vieiros.com/opinions/opinion/462/galicia-versus-galiza

A ideologia debaixo da língua

Há poucos dias, a intervençom da ministra espanhola da Igualdade, utilizando numha comissom parlamentar, segundo depois explicou, por lapsus linguae, a forma ‘membra’ como feminino de ‘membro’, provocou a reacçom imediata e unánime da masculinidade ferida polo que nalgum meio chegárom a qualificar de ‘maltrato ao idioma’.

Nem simpatizo com o PSOE, nem me preocupa especialmente a saúde do espanhol, mas sim me parece digna de comentário essa reacçom quase unánime, que juntou no mesmo coro de agravados algum deputado do PSOE como Alfonso Guerra, jornalistas como Pedro J. Ramírez e académicos ‘de la lengua’ como Gregorio Salvador.

O primeiro –Alfonso Guerra– pediu que se deixasse “viver sozinha” a língua espanhola, evitando impor critérios elitistas à sociedade. Curiosa pretensom dirigida à língua que detém a oficialidade obrigatória em todo o Estado, contando com um potente aparelho institucional como sustento, e que goza de muitos milhons de euros anuais dedicados à promoçom internacional através, por exemplo, do Instituto Cervantes.

Por seu turno, Gregorio Salvador, filólogo e membro da Real Academia Española (RAE), mais partidário do ‘intervencionismo’ em matéria lingüística, aproveitou também a polémica para pedir, literalmente, que o governo espanhol se deixe de “brincadeiras de mau gosto, e se ocupe de resolver problemas de desiguladade preocupantes que há em Espanha, como as dificuldades que tenhem os pais em algumhas comunidades para que os filhos estudem castelhano”.

E quanto ao presidente do jornal conservador El Mundo, Pedro J. Ramírez, praticou o velho recurso da reduçom ao absurdo, na tertúlia radiofónica em que participa, mostrando umha grande sensibilidade com a integridade do idioma espanhol e ridicularizando as pretensons igualitárias em matéria de usos lingüísticos.

Contra as idealistas pretensons de quem defende qualquer língua como essência alheia ao meio social que lhe dá vida, já nos anos vinte do século XX, um lingüista marxista da Rússia soviética formulou um princípio incontornável na análise objectiva da realidade social das línguas: o signo lingüístico é, por definiçom, ideológico.

Com efeito, Mikhail Bakhtin, um dos grandes da ciência lingüística do passado século, descreveu como qualquer formulaçom lingüística, desde que constitui umha representaçom da realidade e nom a realidade mesma, supom por definiçom umha projecçom influída por quem cria o discurso e polas condiçons em que se produz. Anteriormente, alguns antropólogos decimonónicos defenderam o contrário: que eram as línguas que determinavam as culturas, o pensamento e a visom do mundo das pessoas e dos povos.

Hoje sabemos que as línguas som, com efeito, produtos sociais, materializaçons do pensamento e das ideias confrontadas no palco social da comunicaçom, submetidas portanto ao filtro ideológico e aos valores dominantes de cada comunidade lingüística: ao contrário do que afirma o referido deputado jacobino do PSOE, as línguas nom podem “viver sozinhas”, porque dependem das pessoas, dos grupos e das formaçons sociais que as recriam continuamente, inclusive em ámbitos em que nom existe conflito lingüístico como o que corresponde à sociedade em que vive Alfonso Guerra.

Os que, como ele, como Gregorio Salvador ou como Pedro J. Ramírez, clamam em defesa das tábuas da lei da gramaticalidade, como se essas nom fossem também produto de umha concepçom social concreta, abrigam umha concepçom classista e sexista própria das elites que vetárom, em nome da ‘ordem natural das cousas’, o acesso das mulheres ao sufrágio. As mesmas ideias que ainda servem para vetar, por exemplo, a integraçom da populaçom cigana nos bairros das cidades galegas.

Nom sei se no futuro o espanhol, o catalám ou o galego-português irám habilitar, concretamente, um feminino da forma ‘membro’, certamente anti-etimológica e percebida como malsoante, critério estético e como tal mais subjectivo do que objectivo. Sei é que outras formas também contrárias às leis da lingüística assepticamente machista fôrom já habilitadas com sucesso, violentando os bons costumes académicos e o machismo oculto sob a pele do gramático. Ou como se explica, entom, a correcçom actual de substantivos como ‘presidenta’ e ‘juíza’, entre outros muitos até há poucos anos excluídos dos padrons de qualquer das línguas referidas, com base em critérios gramaticalistas?

As línguas som património exclusivo das sociedades humanas e nom entes alheios ou com vida própria para além de aquilo que os grupos sociais determinarem em cada altura histórica. Sendo tam necessário banir as flagrantes discriminaçons de que som alvo diferentes colectivos sociais por razom de sexo, de raça, de classe ou de procedência, as línguas nom podem ficar à margem desse combate pola igualdade e pola justiça, em nome de reaccionários purismos académicos. E, ainda menos, servir de álibi para quem só quer perpetuar as dominaçons subjacentes a cada uso lingüístico discriminatório.

http://www.vieiros.com/opinions/opinion/460/a-ideologia-debaixo-da-lingua

Maurício Castro

Este blogue forma parte da Rede de Blogueiras/os en defensa do Galego