Ensinar bem a nossa língua
Num recente estudo de pesquisa sobre a problemática do ensino do nosso idioma, dirigido por Benito Silva do ICE da universidade compostelana, a conclusom mais importante que se tirou foi a baixa preparaçom didáctica dos ensinantes de língua galega de todos os níveis, o que, junto com outros problemas que padece desde há tempo a língua galega (descida alarmante de utentes, normativa artificial e artificiosa, infravaloraçom e complexos de galegos e galegas, excessiva politilizaçom do tema...), está a repercutir negativamente no desenvolvimento de uma língua internacional como a nossa, em território espanhol.
Por isto vem muito bem a iniciativa da AGAL (Associaçom Galega da Língua), organizando as “Jornadas de Didáctica da Língua Galega”, das que este ano tivo lugar a segunda ediçom no Liceu de Ourense. Por meio de colóquios, tertúlias, forum-cinema e mesas redondas, durante uma semana, tiraram-se importantes conclusões para a melhora do ensino da língua na nossa comunidade, oficial em oito países lusófonos dos cinco continentes.
Mas, a primeira conclusom básica é que necessitamos docentes com valores de bondade e alegria, que amem esta língua, que respeitem os seus alunos, que convençam sem impor e que tenham habilidades humanas, sociais e didácticas para desenvolver as suas aulas de maneira acertada. Para lograr que crianças, adolescentes e jovens apreciem a sua língua e a utilizem sem complexos em todos os contextos. Sem despreciar outras línguas, porque todas som importantes e apreciáveis.
Entre as propostas didácticas que nós fazemos para ensinar bem a nossa língua, estám as seguintes:
1. O melhor livro é a vida e o contorno, por isto devemos utilizar a natureza e o meio social e natural, as pessoas, os animais, as plantas, as árvores, as flores, os rios, o mar, a história local, a etnografia, os montes, os monumentos. Freinet na sua escola tinha isto muito claro. E também o nosso Otero Pedraio.
2. Temos que basear-nos sempre na afectividade e nos sentimentos: Partir sempre dos interesses e preferências dos estudantes, dos seus gostos. Ter em conta a auto-estima, as atitudes e a valorizaçom da própria língua. Só se pode ensinar o que se ama, como muito bem sinalava Tagore.
3. Fomentar sempre a criatividade e as capacidades expressivas dos estudantes Ter em conta em todo o momento a participaçom dos estudantes e o seu trabalho individual e colectivo, levando a cabo, por exemplo, trabalhos de pesquisa em equipa sobre temas da nossa cultura e de todo o que a Nossa Terra oferece nos diferentes âmbitos.
4. Utilizar sempre técnicas lúdicas, vivas e dinâmicas: Dar importância às actividades artísticas variadas, aos jogos, à música e cantares, aos trabalhos manuais, ao teatro e aos monicreques...
5. Preferência Curricular para a Cultura Popular: Escapar do gramaticalismo, tam aborrecível e tam anti-motivador. Utilizar a literatura popular tam rica que temos. As adivinhas, ditos, refrães, poemas, lengalengas, recolheitas, os jogos populares e tradicionais (e ademais praticá-los), o ciclo anual das festas populares, a música popular, aprendendo a cantar as nossas formosas cantigas tradicionais, as artes e o artesanato, etc.
6. As actividades a desenvolver preferentemente, devem ser: o jornal escolar, as revistas e revistas orais, o teatro em todas as variedades (lido, monicreques, dramatizações...), os encontros lúdicos, o forum-cinema, as audições musicais de cantigas e poesias, os concursos e certames, as trocas escolares, as exposições e mostras, a elaboraçom de livros de bordo no computador, a banda desenhada, os obradoiros variados, a animaçom à leitura lúdica e criativa, os conta-contos, a filatelia, a correspondência inter-escolar, as monografias com rodízios de imagens, os recursos humanos da localidade (escritores, artistas, científicos, historiadores, etc).
7. Os Recursos Didácticos preferentes a utilizar seriam: De tipo impresso, os jornais galegos e os seus suplementos, os livros variados, as revistas e os folhetos e unidades didácticas. De tipo audiovisual, os CDs, DVDs, a rádio e os seus programas, os filmes galego-lusófonos. De tipo manipulativo, os jogos e os brinquedos, e a Internete, sabendo escolher o que mereça a pena. Os recursos humanos da localidade, muito importantes como sinalamos antes, e que podem acercar-se aos centros de ensino para dar charlas aos alunos e transmitir-lhes os seus saberes. Os recursos elaborados, como enredos e jogos tradicionais, filmagem de documentários e tiragem de fotografias. Por último, aqueles fornecidos, levados da casa dos alunos e docentes, do meio e do contorno, bibliotecas, museus, centros culturais...
Claro que para isto necessitaríamos mudar muitas cousas nas nossas escolas e centros de secundária, fazer um ensino muito mais flexível e criativo, dar importância ao que a tem e valorizar os docentes. A inovaçom que hoje nom temos na Galiza nem por sombras é uma tarefa muito urgente na Nossa Terra. Infelizmente pode ainda demorar. Porque há que mudar já os administradores da educaçom e a mente de muitos directivos e docentes. A tarefa é de gigantes e de pessoas com paciência e dignidade.
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(*) José Paz é professor numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense.
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1 pingas caídas nesta terra:
que grande verdade
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